sábado, 24 de janeiro de 2009

Contra o agronegócio, a rebeldia camponesa
por Michelle Amaral da Silva última modificação 23/01/2009 11:49
Debatedores mapeiam interesses e contradições do capital na agricultura

22/01/2009
Dafne Melo eMarcelo Netto Rodrigues,de Sarandi (RS)
Controle das sementes, da água e da biodiversidade e investimentos na produção dos agrocombustíveis e da celulose. Essas são os cinco grandes projetos de expansão do capital no campo, conforme opinou João Pedro Stedile, da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), durante um dos painéis do 13º Encontro Nacional do MST, em Sarandi, Rio Grande do Sul. A mesa, que teve como tema o controle das transnacionais sobre a agricultura e suas conseqüências negativas, também foi composta pelo professor e geógrafo da Universidade de São Paulo (USP), Ariovaldo Umbelino.
Para o geógrafo, as transnacionais do agronegócio não medirão esforços para ampliar seus lucros e somente a “rebeldia camponesa” será capaz de frear as novas investidas do capital. “Os camponeses compõem hoje uma classe social que tem a possibilidade de reverter o processo produtivo imposto pelo agronegócio. Eu espero que vocês cumpram esse papel histórico colocado em suas mãos”, afirmou Umbelino.
Controle de circulação
Ao iniciar sua exposição, Stedile enfatizou que, para além da celebração dos 25 anos do MST, o motivo pelo qual os 1500 delegados estão reunidos em Sarandi é a reflexão sobre as novas condições impostas pelo capitalismo, distintas daquelas enfrentadas pelos militantes nos primeiros anos. “Hoje, é necessário um grau de conhecimento e acompanhamento cada vez maior das ações do capital para controlar a natureza e a produção agrícola”, disse.
Os dois expositores explicaram que cada fase do capitalismo gerou uma demanda diferente no setor agrícola. Na atual fase, do capitalismo financeiro globalizado, foi invertida a regra clássica do capitalismo industrial, onde a produção dos alimentos determinava a sua circulação. Hoje, a circulação, controlada pelas transnacionais e pelo setor financeiro, determina as condições de produção. “Grandes monopólios se formaram e atuam de forma a controlar a produção e distribuição de alimentos no mundo, ainda que não plantem um único pé”, apontou Umbelino.
“Agronegocinho”
Esse é um dos grandes entraves para a realização da reforma agrária nos país, e também para a sustentabilidade da agricultura camponesa. “O agronegócio subordina, sujeita, submete a agricultura capitalista, a agricultura familiar e, muitas vezes, setores da agricultura camponesa. O agricultor perde o poder de decidir o que e como vai cultivar e criar, e uma parte cada vez maior de sua renda vai para a agroindústria, pois é ela quem decide o preço dos produtos”, argumentou Umbelino.
Na prática, o que muitas vezes acontece com o pequeno agricultor é ver-se impelido a sucumbir a essa forma de produção no campo. O difícil acesso a linhas de crédito e de assistência técnica para aqueles que têm como objetivo a produção de alimentos – e não de monocultivos para o agronegócio – de maneira sustentável, também são decisivos. E o Estado brasileiro ainda não mostrou interesse político em elaborar financiamentos e assistência para esse setor. “Há uma visão de que o agricultor familiar deva ser um pequeno empresário, que deve fazer sua propriedade dar lucro, deve integrar-se à cadeia produtiva do agronegócio”. Assim, ele deixa de lado a policultura e a produção de alimentos e se especializa na produção de um único produto. "É o que vocês costumam chamar de agronegocinho”, completou o geógrafo.
Modelo insustentável
Além de monopolizarem a circulação das mercadorias agrícolas, essas empresas transnacionais deverão investir ainda mais pesado em pesquisas na área de agrobiologia, como a transgenia. “É o único caminho para obter maior produtividade”, afirma Umbelino, acrescentando que o “controle genético das sementes põem em risco qualquer possibilidade de se discutir a soberania alimentar”.
Entretanto, há muitas contradições no atual modelo. Stedile elencou uma série delas que mostram a insustentabilidade do agronegócio. Do ponto de vista ambiental, a prática da monocultura, com o uso excessivo de agrotóxicos e da transgenia, gera contaminação e esgotamento dos recursos naturais e da biodiversidade. Além disso, os alimentos processados e os animais produzidos pelo agronegócio têm se mostrado insalubres para o consumo humano.
Já sob o aspecto econômico, para aumentar a produtividade, têm sido necessários investimentos cada vez mais altos e insustentáveis. A maior parte dos insumos químicos usados é derivada do petróleo, que mesmo com o preço mais baixo, ainda tem um custo alto, além de ser um recurso esgotável.
O atual modelo, continuou Stedile, também fez com que os países perdessem a soberania na produção de alimentos. Mesmo com toda a iniciativa de se realizar a reforma agrária no governo Hugo Chávez, a Venezuela produz apenas 75% do que consome, sendo obrigada a exportar o restante. O Paraguai, país com um dos solos mais férteis do mundo produz apenas 60% do que consome.
Por fim, Stedile apontou que o agronegócio não gera empregos no campo, sendo esse, nesse momento de crise global, em que as taxas de desemprego pelo mundo tendem a crescer, uma das contradições que devem ser exploradas pelos movimentos camponeses. “Temos que denunciar que o agronegócio causa desemprego. Agronegócio é a agricultura sem agricultor”, finalizou.
MST comemora 25 anos no Rio Grande do Sul
por Michelle Amaral da Silva última modificação 21/01/2009 14:26
Cerca de 1,5 mil militantes discutem em Sarandi a situação do campo e os desafios do movimento

21/01/2009
Dafne Melo e
Marcelo Netto Rodrigues
enviados a Sarandi (RS)
Depois de mais de duas décadas de a fazenda Anonni, no Rio Grande do Sul, ter sido alvo da primeira grande ocupação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) – no ano de 1985 – a área volta a entrar para a história da organização como o palco para as comemorações dos seus 25 anos. Desde o dia 20, cerca de 1.500 militantes, vindos de 23 Estados, discutem, em Sarandi (RS), os rumos que o movimento deve tomar neste ano. As comemorações vão até o dia 24, quando também se encerra o 13º Encontro Nacional do movimento.
Segundo Marina dos Santos, da coordenação nacional do MST, os encontros nacionais, que ocorrem a cada dois anos, têm o objetivo de reunir a militância para discutir a situação da agricultura no país e os desafios e lutas do movimento. “Este ano, o diferencial é que também comemoramos 25 anos, então, além do Encontro, haverá uma grande festa no dia 24 na qual iremos reunir uma série de organizações da sociedade civil, personalidades e intelectuais, para também demonstrar o apoio da sociedade civil à luta do MST”.
Logo na entrada do assentamento Novo Sarandi, estão espalhadas cinco lonas pintadas que ostentam os lemas dos cinco Congressos que o movimento já realizou: “Terra para quem nela Trabalha” (1985), “Ocupar, resistir e produzir” (1990), “Reforma Agrária: uma luta de todos” (1995), “Reforma Agrária, por um Brasil sem latifúndio” (2000) e o atual “Reforma Agrária: por Justiça Social e Soberania Popular” (2007).
No local do encontro, três lonas gigantes de circo armadas num campo de futebol servem de alojamento às delegações, fazendo com que fronteiras inimagináveis aconteçam: Minas Gerais, por exemplo, está ao lado do Ceará e de Rondônia.
Longo caminho
Apesar de o encontro ter apenas cinco dias, para muitas delegações, ele começou mais cedo. No caminho até o Rio Grande do Sul, muitas passaram mais do que três dias dentro do ônibus nas estradas, como a do Ceará, por exemplo, que levou 78 horas para chegar a Sarandi, como relata um dos seus delegados, Lindenberg Pereira, que debate com seu grupo como será a mística apresentada pelos Estados do Nordeste.
Além de convidados nacionais, 55 amigos estrangeiros do MST eram esperados, vindos da Espanha, Noruega, Alemanha, Itália, Venezuela, entre outros países. Mas um convidado inesperado também se fez presente: o frio, que tem sido um problema já que as temperaturas baixaram abruptamente apenas na véspera do encontro quando quase todas as delegações já haviam partido dos seus Estados de origem com a informação de que o clima estaria muito quente durante o encontro.
Esse, entretanto, não é o único imprevisto. Na entrada do assentamento, desde o dia 19, a Brigada Militar do Rio Grande do Sul tem feito plantão, parando os veículos que entram, conferindo documentos e licenças de viagens interestaduais. Os brigadianos têm permanecido na entrada inclusive durante a noite, com fogueiras acesas. Para além da intimidação desnecessária, há o receio de que se usem os dados recolhidos para criminalizar participantes do Encontro.
As origens da guerra entre Israel e Palestina
por Michelle Amaral da Silva última modificação 23/01/2009 13:53
Para historiador Christian Karam, a questão religiosa muitas vezes serve como pretexto para encobrir fins políticos e econômicos

Patrícia Benvenuti,da Redação
O reconhecimento do Hamas por parte de Israel como o governo democraticamente eleito dos palestinos e o direito de retorno dos refugiados são alguns dos principais desafios postos atualmente para a criação do Estado palestino. A avaliação é do historiador Christian Karam, estudioso da História do Islã, do Oriente Médio e do conflito palestino-israelense. Em entrevista, ele explica como se deu o Estado de Israel e como a influência de outros países tem prejudicado o processo de paz entre os dois povos
Brasil de Fato – O mundo assistiu estarrecido o terror que o Estado de Israel impoe ao povo palestino. Para entender melhor a origem desse conflito, o senhor poderia recuperar como se deu a criação do Estado de Israel?
Christian Karam - O termo “Sionismo” foi criado em 1885 pelo escritor judeu-austríaco Nathan Birnbaum como uma alusão a “Sion”, um dos nomes bíblicos de Jerusalém (Al-Quds para os árabes e muçulmanos). Nessa época, “Sionismo” basicamente significava uma resposta ao problema nacional judeu que advinha de dois fatos principais: da dispersão judaica em vários países e regiões do mundo; e da sua constituição, em cada um desses países, como uma minoria populacional, onde inclusive muitos judeus eram perseguidos, como era o caso da Europa anti-semita do século 19. Assim, a solução sionista pretendia acabar com essa situação, através do retorno a “Sion”, onde conformariam uma maioria populacional e uma entidade político-estatal independente. Assim, é nesse espectro que surge o sionismo político internacional fundado pelo jornalista judeu-húngaro Theodor Herzl na Europa de fins do século 19 como um movimento nacionalista preponderantemente laico e secular que visava à fundação de um Estado nacional judaico. Após o término da guerra, diante do impacto do Holocausto nazista, a Inglaterra propôs à Organização das Nações Unidas (ONU) a divisão da Palestina entre árabes e judeus. Assim, uma vez aprovada a partilha da Palestina britânica em novembro de 1947, ficou estabelecido que o Estado judeu deveria ocupar 56% do território, enquanto ao Estado árabe competiria controlar os restantes 43%. Já o 1% remanescente de Jerusalém e seu entorno seria colocado sob mandato internacional da ONU. Essa divisão respeitava muito pouco dois fatores essenciais: a ocupação das terras e a maioria populacional, já que grande parte do território seria controlada pela minoria judaica, que somava apenas 30%.
Por que da localizaçõa geográfica, o lugar escolhido para o Estado de Israel?
Penso que pela simbologia histórica e religiosa que a região da Palestina histórica representa no imaginário dos judeus (por mais que isso tenha sido uma construção histórica idealizada dos séculos 19-20), herdeiros da última grande diáspora que os expulsou dali, aquela perpetrada pelos romanos no século primeiro. Em fins do século 19, os sionistas haviam proposto a colonização judaica da Palestina otomana, apesar de terem cogitado outras regiões, como Uganda (na África oriental) e a bacia do rio da Prata, na Argentina. Assim, se em algum momento do período entre-Guerras (1918-1945) especulou-se sobre outro território que não o da província turca da Palestina e, após 1920, aquele da Palestina colonial britânica para a fundação de um Estado hebreu, a imigração e a colonização em curso comprovaram que a decisão pela Palestina turca já havia sido tomada, especialmente quando, a partir de 1917, a Declaração Balfour britânica passou a “ver com bons olhos” a criação de um “lar nacional judaico” na Palestina turco-otomana (de maioria populacional árabe e islâmica). Isso denota o claro apoio à causa nacional sionista por parte do imperialismo inglês, que planejava beneficiar-se da presença de uma terceira força político-nacional na região, principalmente em um contexto de guerra contra os alemães e seus aliados na região, os turcos.
Qual território deveria ser ocupado pelos palestinos?
Se fossem cumpridas as resoluções da ONU, o território que o Estado hebreu hoje teria de ocupar seria aquele anterior às fronteiras de 1967, quando, com o fim da Guerra dos Seis Dias, Israel invadiu e passou a ocupar ilegalmente a Faixa de Gaza (então parte do Egito), a Cisjordânia e Jerusalém Oriental (então pertencentes à Jordânia) e as colinas de Golã, que eram da Síria. Desse modo, o território que hoje constituiria o Estado de Israel seriam aproximadamente 70% da Palestina britânica. Em torno de 13 a 14% dessa área foram conquistados ao território árabe-palestino e anexados como resultado da primeira guerra árabe-israelense de 1948-9. Desse modo, hoje não se fala dos territórios que a partilha da ONU de 1947 determinara para a constituição do Estado árabe-palestino (43%) e do Estado judeu (56%), mas, no caso de Israel, deste percentual acrescido da parcela acima mencionada que foi conquistada na chamada “primeira guerra árabe-israelense” de 1948-9, quando inclusive Jerusalém, que, pela proposta original, seria uma área internacional, teve sua porção ocidental anexada por Israel, que a declarou como sua capital em 1950, embora sem obter reconhecimento internacional. Por outro lado, o território que o Estado palestino ocuparia, caso hoje fosse declarada sua criação, não seria mais de 20 a 22% da área da Palestina britânica, se fossem mantidos os enclaves de colonos sionistas na Cisjordânia e a ocupação de Jerusalém Oriental. Porém, se ocorresse uma completa desocupação por parte de Israel dessas regiões, então ambos territórios, somados à retirada unilateral israelense da Faixa de Gaza ocorrida em 2005, teríamos os 30% de terras palestinas correspondentes aos outros 70% de território israelense. Em suma, o Estado da Palestina estaria formado pela Cisjordânia, Faixa de Gaza e por Jerusalém Oriental, que o nacionalismo palestino quer ter como sua capital.
A criação do Estado de Israel foi uma proposta da Organização das Nações Unidas. E agora a ONU parece ter perdido o controle sobre a questão. Qual seria a causa dessa "perda de autoridade" ao longo dos anos?
Parece-me que a ONU nunca foi um ator politicamente muito ativo na questão, uma vez que suas principais resoluções, como a que obriga Israel a retirar-se dos territórios invadidos durante a Guerra dos Seis Dias de 1967, nunca foram implementadas. Além disso, durante a Guerra Fria, quem realmente deu as cartas do jogo político foram, em nível internacional, os EUA e a URSS e, em nível regional, além de Israel, o Egito, a Síria, o Iraque e as chamadas “monarquias árabes conservadoras” lideradas pela Arábia Saudita. Após a revolução islâmica de 1979, outro importante ator político que entra em cena é o Irã. E, com o fim da Guerra Fria e a dissolução da URSS, os EUA reafirmam-se enquanto potência internacional hegemônica no Oriente Médio, que é apoiada, importante dizer, não somente por Israel, mas, cada vez mais, pelos árabes conservadores do Golfo Pérsico, pelo Egito e, em menor medida, pela ala mais centrista da OLP, a Fatah, que, na época, dava sua guinada à direita.
Os discursos da Fatah e do Hamas parecem denotar diferenças entre os própriospalestinos a respeito da criação de um Estado. Como podem ser resumidasessas diferenças e como elas interferem no processo de paz na região?Não me parece que os discursos e ações políticas de ambos partidos caracterizam diferenças a respeito da criação do Estado palestino, mas sim demonstram a diversidade política, ideológica e econômica que permeia a questão, ou seja, que tipo de Estado e de sociedade se deseja para a população palestina. No que se refere à adoção de determinado modelo econômico e programa político-ideológico e à formação de alianças regionais e internacionais, Fatah e Hamas divergem em vários aspectos. Aquela, oriunda de uma tradição da esquerda nacionalista e terceiro-mundista dos anos 1960-70, que flertou com o nasserismo e o socialismo árabe, porém sem nunca ter sido comunista, sofreu uma guinada à direita após o fim da Guerra Fria nos anos 1990 e, hoje, não contesta o liberalismo econômico e político dominantes. O Hamas, por outro lado, surgiu de uma conjuntura de crise política: a Intifada palestina de 1987-90. Expulsa do Líbano em guerra em 1982, a OLP, desacreditada e politicamente enfraquecida para lidar com a questão nacional palestina e para lutar contra a ocupação israelense de Gaza e da Cisjordânia, verá nascer um importante adversário, porém, à época, ainda informal e secundário. O próprio Estado de Israel fomentou e armou o Hamas contra a OLP de Arafat e suas facções nacionalistas laicas de tradição esquerdista, a fim de dividir o movimento nacional palestino, e também para tentar lidar com um novo grupo político que fosse mais fraco e, portanto, menos exigente quanto às demandas nacionais palestinas. Inicialmente, o Hamas se absteve de realizar ataques abertos contra Israel. Porém, em pouco tempo, isso mudou, e o Hamas assumiu um importante protagonismo na resistência e no nacionalismo palestinos, ainda numa fase em que sua ideologia e ação política poderiam ser consideradas conservadoras ou “fundamentalistas”. Porém, especialmente após as primeiras crises do processo de paz dos anos 1996-2000, o Hamas vêm assumindo grande parte da ação política e social entre as classes sociais mais pobres e marginalizadas da sociedade palestina, que a Fatah, quando no poder, relevou ao segundo plano, em parte devido ao próprio “aburguesamento” liberal e à corrupção de vários de seus quadros.
A respeito da interferência dessas divergências políticas e econômicas que existem entre a Fatah e o Hamas no processo de paz com Israel, costuma-se afirmar que um dos principais empecilhos seria o não-reconhecimento ao direito de existência de Israel por parte do Hamas. De fato, em algum momento o Hamas terá de repensar a questão e emitir uma declaração formal que reconheça o Estado hebreu, embora já tenha havido vários posicionamentos informais nesse sentido por parte de algumas lideranças. Por outro lado, inimigo que não se reconhece é aquele contra o qual não se luta. E, nesse sentido, a experiência histórica prova que, embora informalmente, Israel e o Hamas têm se relacionado, mesmo que na maioria das vezes seja para divergir e combater entre si. Da mesma forma, Israel, assim como os EUA e a União Européia, precisam reconhecer formalmente o Hamas como partido político e movimento social legítimo da sociedade palestina que o elegeu democraticamente como seu representante no parlamento e no governo, a fim de que se possa partir de um diálogo em um nível pelo menos política e juridicamente igualitário.
Que outros desafios poderiam ser citados para a criação de um Estado palestino?
Outros importantes desafios, que preferiria chamar de direitos palestinos inalienáveis, são: a questão dos refugiados (de três a quatro milhões) espalhados em diversos países do Oriente Médio; a declaração de Jerusalém Oriental (uma vez desocupada por Israel) como sede da capital palestina; a determinação precisa das fronteiras da Palestina, tanto com Israel quanto com os demais países vizinhos (Egito e Jordânia); a suspensão da construção e a posterior destruição do muro que Israel hoje constrói na Cisjordânia, inclusive anexando território palestino, mais conhecido por “Muro da Vergonha”, que somente serve para semear mais segregação entre os dois povos; e, o principal de todos, a retirada total e incondicional de Israel e de suas tropas e colonos da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, que seria o retorno às fronteiras de 1967. Nesta questão, é preciso mencionar Gaza, pois, embora tenha havido, em 2005, a desocupação unilateral de que falávamos, Israel seguidamente viola o espaço aéreo de Gaza e realiza incursões militares terrestres na região. Da forma como a imprensa e a mídia burguesas têm abordado esta última crise ocorrida em Gaza, parece que o Hamas resolveu pôr um fim à trégua e atacar Israel sem quaisquer motivos, quando, na verdade, Israel se retirou apenas formalmente da Faixa de Gaza em 2005, pois nunca deixou de invadir a região e, inclusive, imiscuir-se nos assuntos de política interna do governo do Hamas, isso sem falar no fato de que nunca o reconheceu como representante político legítimo dos palestinos de Gaza, pois foi democraticamente eleito por estes em 2006.
Em relação ao tema dos refugiados e seu direito de retorno, a solução da questão é bem mais complexa, uma vez que estes reivindicam retornar para as áreas que suas famílias ocupavam quando da criação de Israel em 1948, o que poderia acarretar numa incursão em massa de palestinos ao atual território israelense. Ainda que essa solução fosse implantada, não creio que a maioria dos palestinos que vive na diáspora exerceria esse direito de retorno, pois muitos já possuem laços sociais, familiares e profissionais em outros países. Porém, se esse direito de retorno fosse concedido, ele deveria ser conferido a todos os descendentes dos refugiados de 1948 sem restrições. Parece-me que uma solução diplomática intermediária seria que se procedesse à retirada incondicional de Israel da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental e, assim, através da proclamação de um Estado palestino, o direito de retorno talvez pudesse ser exercido nessas regiões e em Gaza.
Na sua avaliação, qual é o peso da questão religiosa neste conflito?
A questão religiosa muitas vezes serve como pretexto para encobrir fins políticos e econômicos. Para mim, está muito claro (e a maioria dos pesquisadores do tema afirma isso) que o problema é de ordem nacional e, portanto, requer soluções políticas e econômicas de ambos os lados. Assim, volta-se à questão sobre em que tipo de Estado a sociedade palestina quer viver. E a resposta dadas nas últimas eleições, que conduziram o Hamas ao poder, parece ser a rejeição do projeto político-econômico liberalizante da Fatah e de parte da OLP, bem como a desaprovação de práticas de corrupção na condução da Autoridade Nacional Palestina, associados ao fracasso do processo de paz dos anos 1990 e à irrupção da Segunda Intifada em 2000. A tese equivocada de que o “fundamentalismo islâmico” - e, no caso palestino, o Hamas seria, segundo o senso comum, seu representante - abriga os ideais da maioria das sociedades muçulmanas do mundo é um profundo erro. Em termos político-ideológicos e econômicos, talvez ainda não seja possível determinar com precisão aquilo que o Hamas e seu programa político realmente representam, porém a estratégica política de luta e alguns de seus ideais os fazem assumir um papel dissonante daquele da globalização neoliberal. Em geral, hoje se diz que o dilema político dos EUA e da Europa no Oriente Médio é ter de escolher entre o apoio a muitas ditaduras militares de direita ou esquerda (porém laicas e seculares) e o respaldo a governos adeptos de um programa político-religioso islamista/fundamentalista (porém cada vez mais eleitos democraticamente).
Abriu-se uma fresta.. é hora de avançar, direitos não se negocia se defende!

Frente a crise financeira do capital as saídas apresentadas pelas forças dirigentes têm sempre a mesma intencionalidade: Salvar o capital especulativo e industrial e de maneira perversa cobrar os custos a massa da população trabalhadora.
Pouco importa o fato de que milhares de pessoas sofram com as conseqüências da falta de sustentabilidade econômica deste sistema. Os trabalhadores são os mais atingidos pelo aumento do desemprego, da exploração do trabalho e falta de seguridade social.
A crise que se iniciou no setor imobiliário e bancário agora se faz sentir também no setor industrial. E o que tem feito os governos ?
Como primeira medida em todo o mundo, os governantes vêm injetado milhões em dinheiro para salvar os banqueiros. Uma medida que busca reduzir os impactos da crise para os capitalista e com um custo altíssimo para as populações que vêem os investimentos públicos aplicados no setor privado aumentando a concentração de riquezas e diminuindo os investimentos sociais e produtivos.
No Brasil, o governo tem reduzido impostos, diminuído as taxas de juros, aumentado as linhas de créditos tudo para favorecer as grandes empresas que no entanto agem sem nenhum compromisso em garantir os empregos dos seus funcionários.
O que temos visto são os empresários aproveitando do discurso da crise para obterem investimentos do governo para maximizar e otimizar a produção ao mesmo tempo em que demitem milhares de trabalhadores. Como sempre os capitalistas repassam os prejuízos ao setor público e aos trabalhadores sem reduzir em nada os lucros.
Agora com o apoio das redes de TVs iniciam uma campanha mediática para convencer os trabalhadores de que é melhor se contentarem com a redução do valor dos salários, flexibilização de direitos trabalhista, com cortes de horas extras e redução das jornadas de trabalho do que perderem os empregos. Essas campanhas objetivam minguar a resistência e ação dos trabalhadores na defesa de seus interesses e favorecer aos capitalistas a aumentar a exploração e manter intacta e crescentes os seus rendimentos.
Por que estas campanhas não informam ao povo que os empresários sempre utilizaram do financiamento público para crescer o seu capital. Que o estado retira recursos dos setor social transfere para as grandes empresas aumentando a concentração de rendas e as desigualdades econômicas e sociais.
É hora de cobramos o retorno. Quem não sabe administrar não deve receber crédito.
O que devemos fazer ? Denunciar que não são os trabalhadores os causadores da crise e nem tão pouco os que lucram com ela; fortalecer a resistência e a organização dos trabalhadores para impedir que os direitos conquistados sejam retirados e que se aumente a exploração do trabalho; denunciar que quem deve pagar os custos da crise são os banqueiros e as multinacionais que a cada dia concentram mais renda e capital em função da especulação desmedida, da exploração do trabalho, dos lucros obtidos com a cobrança de juros da divida e com a super exploração dos recursos naturais e do trabalho humano dos países periféricos.É hora de avançar. Todo momento de crise também se representa como uma oportunidade que se há de aproveitar para mudar a situação atual de forma rápida e eficaz e de modo a assegurar alternativas de desenvolvimento que tragam benefícios sociais e econômicos a todo o conjunto da população e não apenas a meia dúzia de capitalistas e especuladores. É hora de por as mãos na manivela e fazer girar. É hora de juntar as muitas mãos para moldar um mundo melhor possível.
A convocatória do velho Marx está em pauta. Proletários de todo mundo uni-vos : DEMITIU? PAROU. FALIU? OCUPOU.

Djacira Oliveira

मस्त कोम्प्लेता २५ एनोस

Encontro Nacional é abastecido com alimentos da Reforma Agrária23/01/2009Cem cerca de 1.500 Sem Terra vindos dos 24 estados do Brasil em que o MST está organizado, o 13º Encontro Nacional chega ao seu terceiro dia, em Sarandi (RS). Discutindo e avaliando as atividades, o clima festivo toma conta do momento que tem como ponto central a comemoração dos 25 anos do MST. Somente muita comida de qualidade para manter todos os participantes dispostos e fortes para os dias de debate. Como um dos principais pilares e centro de difusão do nosso projeto para a agricultura brasileira vai para a cozinha, é nela que os delegados têm uma alimentação farta e saudável.Dentro da proposta do MST de implantar um modelo de agricultura voltado à produção agroecológica e diversificada, os alimentos usados na cozinha do encontro são, na sua grande maioria, produzidos de forma agroecológica. Vindo dos vários assentamentos e escolas de agroecologia do Rio Grande do Sul e doados pelas famílias assentadas. Alguns, sendo produzidos pelas equipes responsáveis há cerca de quatro meses, especialmente para o encontro. O pão e a cuca (comida típica do sul) são produzidos diariamente na padaria do assentamento.Segundo a assentada Marilisa da Silva, que integra a coordenação da cozinha, essa é a melhor forma de mostrar à sociedade como os assentamentos do MST são grandes produtores de alimentos, capazes de abastecer sua própria mesa e o mercado interno.Organizados em equipes e trabalhando de forma coletiva, 45 assentados e acampados de várias regiões gauchas se revezam para dar conta de produzir as três refeições diárias dos delegados, com um cardápio típico gaúcho. "Estamos sentido falta da farinha, mas a comida está ótima, muito saudável e a forma de distribuição também está muito boa", comemora José Aldemir dos Santos da delegação do Sergipe.Para dar mais qualidade e agilidade ao encontro, toda alimentação é distribuída por estados, em 10 pontos diferentes. Durante o café da manhã são servidos 250 pães, 250 cucas (comida típica do sul), 50 kg de salame, 75 kg de queijo, 100 litros de leite, 100 litros de café, além de nata e geléias de vários tipos. No almoço e jantar são 240 kg de feijão, 600 kg de carne, 360 kg de arroz, 400 de batatinha e 500 de batata doce, 100 kg de beterraba, 80 kg de cenoura, 480 kg de mandioca além de 1.200 litros de suco e vários tipos de saladas. Comida de qualidade, em boa quantidade, para garantir a disposição que todos necessitam.